O modo de exposição de uma pesquisa, a dimensão estética da escrita, é sempre uma relação posta entre forma e conteúdo. Ser relação posta configura ser sempre expressão de intencionalidade político-social do pesquisador, do autor, do artista. O conteúdo, por outro lado, é relação causal da materialidade ôntica e da forma fenomênica, expressão homogeneizada do momento real heterogêneo pela apreensão ideal da ciência ou da arte. Em suma, na relação posta entre conteúdo e forma, é papel desta última possibilitar o desvendamento consciente ao leitor.
Entretanto, principalmente em pesquisas na filosofia da Educação Matemática, a forma tem se configurado como espaço de obscurecimento do conteúdo, se não mais, tentativa de ocultar um conteúdo inexistente. Entre "narrativas" e "pensar pensamentos" a forma toma a forma de charlatanismo.
Em muitas narrativas as formas forçadas são explorada de maneira a dar senso estético a uma obra de conteúdo aligeirado. Entre poemas, poesias e cartas busca-se expressar na forma a impossibilidade de apreender o conteúdo. Ergo-me em defesa das narrativas: pesquisas narrativas não são bagunça para dar voz a qualquer modismo estético da banalização; poemas, narrativas, poesias e cartas/epístolas são resultado de um processo doloroso de assimilação e refinamento da objetividade a partir da subjetividade do autor. Ergo-me em defesa da narrativa: narrar não é descrever, poema não é só rima, carta não é só contar: a estética é mais que a forma. Paremos de banalizar nossas pesquisas narrativas!
Que vem a ser a afirmação "pensar o pensamento" se não o uso do pleonasmo para expressar todas as multiplicidades de uma sociedade fragmentada pelo Capital que se ergue contra a dualidade totalitária de Marx? Deleuze e Guatari, Derrida e Lyotard, ora pois ixtepô diria o manezinho da ilha: mais difícil de decifrar que o dialeto açoriano ouvido pela primeira vez. O abuso da forma é para esconder a inexistência de um conteúdo transformador. É para procurar no âmbito do discurso expressar uma radicalidade que não se exerce na prática: Argélia que o diga! Franceses que se negaram a lutar contra o colonialismo, mas que se colocam como baluarte contra toda forma de autoritarismo. Anarquistas liberais e individualistas, detratores da história de toda a humanidade. Que me perdoem, mas enquanto viver, o charlatanismo que se põe como filosofia sempre será denunciado!
Escritos Radicais e Utopia
Blog com escritos que explicam a necessidade contundente das lutas radicais nos diversos setores institucionalizados, defesa incondicional do socialismo libertário e das diversas frentes de lutas contra o capital e a opressão estatal.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
sexta-feira, 27 de julho de 2018
A Lei do Retorno: na direção das pazes com a Matemática
As últimas semanas de pesquisa tem sido altamente 'gostosas'. Preocupado com a emergência da educação matemática como complexo do ser Social tenho estudado a Matemática propriamente dita com uma profundidade anteriormente nunca feita. E é isso que tem sido particularmente gostoso. Perceber que os jargões de que a "matemática basta por si mesma" e que goza de "grande autonomia" frente a materialidade, e ao mesmo tempo, das idiotices dos materialistas mecanicistas que procuram mostrar como a matemática é real a partir dos "usos e aplicações", e que em si ela seja neutra o problema é os que usam dela. Ter que retomar os originais de Cauchy e Weierstrass para discutir as ideias de rigor, verdade, definição, formalização e formalismo acabam esclarecendo em mim coisas que nunca foram bem definidas: "porque o limite e não outra coisa?" "porque os épsilons?".
Por vezes tão preocupado em repetir incessantemente o encontro de épsilons e deltas para demonstrar propriedades, teoremas e lemas de Análise o mais fundamental nunca era respondido: 'mas porque isso?'. Tudo sempre se resolvia com o tratado de que a matemática se basta por si mesmo, e os fundamentos da matemática devem ser aqueles que permitem o eterno repeteco tautológico dos princípios aristótélicos (ironicamente estes fundados na ética grega de base material). Assim, filosofia da matemática seria o "ré": definir da maneira mais clara possível de forma que se crie toda uma estrutura sem contradições e erros em suas lógicas internas. Matemática seria nada mais nada menos que pura tautologia e sua relação com a realidade uma questão normativa.
E é aqui que retorno a Cauchy e Weierstrass, e muitos outros de seu tempo, indivíduos capazes de sintetizar em suas ideias movimentos de toda uma totalidade social, nesse caso, para o desenvolvimento do complexo da matemática e da própria educação matemática. Não podemos esquecer que os trabalhos de Cauchy eram para "ensinar" de maneira menos 'obscura'.
Em suma, não há como estudar a gênese da matemática sem a gênese do complexo da educação matemática. Por mais que tenham objetos diferentes, dadas suas funções sociais contraditórias: os dois complexos exercem função de reprodução do ser social, mas de formas diferentes, o primeiro na produção do modelo matemático como ser da matemática, e o segundo na materialização desse modelo como parte cultural do ser Social.
Parece que realmente tenho aprendido e apreendido matemática de verdade. E pelos céus ela não é pura tautologia.
Me reconcilio gradativamente com este campo do saber, a matemática, e pareço provar sempre mais que o problema não é saber em si, no seu ser-propriamente-assim, mas a comunidade profissional que se põe como detentora desse saber. Faço as pazes com as noites viradas, com os ataques de pânico e as crises de ansiedade, faço as pazes com as taquicardias e os péssimos gostos das minhas vestimentas. O saber matemático não tem em si culpa do que fazem para ensiná-lo, mas isto não quer dizer que no seu em-si ela seja neutra.
Por vezes tão preocupado em repetir incessantemente o encontro de épsilons e deltas para demonstrar propriedades, teoremas e lemas de Análise o mais fundamental nunca era respondido: 'mas porque isso?'. Tudo sempre se resolvia com o tratado de que a matemática se basta por si mesmo, e os fundamentos da matemática devem ser aqueles que permitem o eterno repeteco tautológico dos princípios aristótélicos (ironicamente estes fundados na ética grega de base material). Assim, filosofia da matemática seria o "ré": definir da maneira mais clara possível de forma que se crie toda uma estrutura sem contradições e erros em suas lógicas internas. Matemática seria nada mais nada menos que pura tautologia e sua relação com a realidade uma questão normativa.
E é aqui que retorno a Cauchy e Weierstrass, e muitos outros de seu tempo, indivíduos capazes de sintetizar em suas ideias movimentos de toda uma totalidade social, nesse caso, para o desenvolvimento do complexo da matemática e da própria educação matemática. Não podemos esquecer que os trabalhos de Cauchy eram para "ensinar" de maneira menos 'obscura'.
Em suma, não há como estudar a gênese da matemática sem a gênese do complexo da educação matemática. Por mais que tenham objetos diferentes, dadas suas funções sociais contraditórias: os dois complexos exercem função de reprodução do ser social, mas de formas diferentes, o primeiro na produção do modelo matemático como ser da matemática, e o segundo na materialização desse modelo como parte cultural do ser Social.
Parece que realmente tenho aprendido e apreendido matemática de verdade. E pelos céus ela não é pura tautologia.
Me reconcilio gradativamente com este campo do saber, a matemática, e pareço provar sempre mais que o problema não é saber em si, no seu ser-propriamente-assim, mas a comunidade profissional que se põe como detentora desse saber. Faço as pazes com as noites viradas, com os ataques de pânico e as crises de ansiedade, faço as pazes com as taquicardias e os péssimos gostos das minhas vestimentas. O saber matemático não tem em si culpa do que fazem para ensiná-lo, mas isto não quer dizer que no seu em-si ela seja neutra.
terça-feira, 18 de agosto de 2015
GLOSAS CRÍTICAS A MATEMÁTICA BÁSICA E SUPERIOR (Parte I)
Movimentos Introdutórios da Crítica
A importância da Matemática na sociedade justificada pelo slogan da
“matemática está em toda parte” nunca realmente me convenceu.
Respostas curtas para perguntas complexas sempre acomodam graus de
fanatismo, dogmatismo e idiotia. Aliás, uns dos aspectos marcantes
na “comunidade de matemáticos” é a mediocridade dominadora de
extrapolar as barreiras da linguagem matemática para o
social/educacional/político, não por acaso é esta comunidade que
estipula que a matemática é importante porque está em toda parte.
Lákatos em Ciencias, Matemáticas y Epistemologia deixou
claro que a filosofia sem a ciência é inócua, e a ciência sem a
filosofia é infértil. Minha intenção nessa ação de glosar
criticamente nossos ambientes matemáticos e de comunidade é de
trazer um pouco da fertilidade da filosofia para o nosso terreno.
Se a matemática está em toda
parte, cabe a pergunta “porque está ela em toda parte?”, o que
lhe garante esse ar de superioridade, confiabilidade e
reprodutividade e quais as consequências, científicas e sociais,
destas imperativas constatações?
Skovsmose em
suas inúmeras contribuições filosóficas sobre o ensino da
matemática sempre pontua que a mesma atua na educação de jovens,
crianças e adultos nos
ambientes de aprendizagem
como um filtro social,
seja por se comportar como a disciplina mais odiada, menos entendida
e mais cobrada, seja pelos seus usos cotidianos apresentados sob uma
ideologia de certeza, na qual lhe é garantida toda a confiabilidade
social, ao ponto de esta ser estimada como neutra e sem sentido
material (como uma ciência
ideal, pura e platônica). Se
por um lado a sua apresentação idealista e purista contribui para
um distanciamento educacional da disciplina (ódio, reprovações,
medos), a matemática tomada sob rumos de neutralidade científica
estimula a formação de homens e mulheres que não se apropriaram da
mesma para suas atividades reflexivas na sociedade.
Mais do que isso é preciso que
compreendamos que a linguagem matemática e seus sistemas de
comprovação e cálculo estimulam determinada forma de pensar, isto
é, contém em si um caráter formatador influenciado pelas maneiras
como afetivamente os estudantes percebem a disciplina. Em outras
palavras, uma educação matemática tradicional voltada para a
neutralidade e a apresentação da disciplina como algo doloroso,
difícil e puro contribui para a formação de um pensamento lógico
técnico desprovido de análises sobre o que se está a fazer. Tal
forma de ensinar e educar matemática formatará um modo único de
fazer matemática: irracional para tudo que não é matemática,
movido pelas idiotias e mediocridades do intelecto humano do senso
comum, a dominadora maioria nos ambientes de matemáticos.
Suas imbricações (da matemática)
com a tecnologia nos remontam a questionar que influências a
tecnologia terá sobre as maneiras como enxergamos, trabalhamos e
pensamos. De maneira semelhante, os usos da tecnologia, seja no
ensino da matemática ou na aplicação, implicam em formatações
acríticas quando a concebemos sob patamares de neutralidade e
pureza. Mais do que castrar possibilidades intelectuais
emancipadoras, a tecnologia e a matemática dominadas pela ideologia
da certeza, propiciarão não apenas um novo modelo de pensar, mas um
novo modelo de se organizar socialmente. A tecnologia não será
apenas usada de maneira acrítica pelas mulheres e homens que a
detiverem em uso (pois muitos
não as detém!!), mas suas
relações serão manipuladas a partir da maneira como esta
tecnologia foi construída se utilizando dos conhecimentos
científicos e humanos.
Isto é, a matemática assim como a
tecnologia, não perdem sua neutralidade apenas nos usos que se fazem
dela, mas principalmente devido as condições materiais e subjetivas
pelas quais foram construídas: a efetividade de uma bomba em
explodir é extremamente superior a efetividade do ato de querermos a
usar como um vaso de flor, porque as condições materiais e
subjetivas de quem a projetou são mais determinantes que os usos que
faremos dela.
Não há hoje como pensar uma
educação matemática, um currículo de matemática, sem pensar em
suas imbricações sociais e tecnológicas. Mais do que isso, se faz
necessário uma crítica radical as maneiras pelas quais são
conduzidos tais cursos, de que maneira são produzidos e apropriados
tais conhecimentos, e principalmente, os fazer sob um ponto de vista
de classe e de crítica da sociedade dada.
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Carta ao Camarada Lakatos: Quando terminar a faculdade eu vou estudar
“A
filosofia sem a ciência é inócua,
a
ciência sem a filosofia é cega”
Imre
Lakatos
Caro camarada,
Entrei na Universidade com duas ilusões. A primeira era
que fazendo Matemática poderia perceber as melhores formas de
compreender a natureza, a sociedade e o mundo; apesar de muito ampla
é bastante insuficiente. A segunda que no ambiente universitário
encontraria um acesso claro as mais diferentes formas de cultura,
arte, debate e ideias, e mais especificamente, seria incentivado a
isso por aqueles que poderiam ser meus mentores; o ambiente
universitário é dotado de tamanha capacidade repressora, que até
as mais brilhantes mentes tendem a perder sua fertilidade e
criatividade.
Acreditava que para entender filosofia deveria cursar
filosofia, para entender economia deveria cursar economia.
Acabei por cursar Matemática.
Isso não faz o menor sentido, a noção de que a formação de uma
pessoa deva ser específica é um dos grandes freios da ciência
atualmente, e sob ele reside aquilo que entendo como a hipocrisia
acadêmica. Tal
hipocrisia reside em todo o processo educacional e de produção do
conhecimento científico. Por exemplo, a suprema maioria da academia
das ciências naturais afirma que para um avanço nas ciências
brasileiras é necessária uma transformação na base de nosso
processo de ensino, a educação infantil e básica. E muitos
educadores, dos tradicionais aos mais progressistas dão suas
explicações e ideias para essa transformação, aos tradicionais é
necessária uma forma de educação familiar mais forte, para os
progressistas uma participação do Estado mais presente. Para as
famílias é preciso que se invista mais em educação, para o Estado
que os professores se formem de forma melhor, e para o Ensino
Superior professores melhores necessitam de uma base de ensino
melhor. Essa é a hipocrisia acadêmica, é a crítica irresponsável
aonde cada qual percebe as fragilidades do campo alheio.
Não há vício maior
do que a mesma hipocrisia, pois ela induz ao universo científico tal
necessidade, e se confunde com ele, ao ponto de qualquer divergência
ser perseguida com formas punitivas. Em um ambiente que corrompe a
criatividade a
única forma de manter a produção é pela pressão, pela
perseguição e ameaça. Enquanto as diretrizes sobre extensão
universitária são vagas, as punições são severas e claras
(frequência, sistemas de
aulas, documentos e relatórios burocráticos...). A excelência
científica é confundida com a produção constante, o ócio é nada
mais que a constatação da vagabundagem. Esse
senso comum apenas é seguido por que todos o repetem, é nessa
repetição por pressão e perseguição que está a sua existência.
O senso crítico se tornou apenas parte léxica de trabalhos
acadêmicos.
Em um universo
científico corrompido pela forma acadêmica de fazer ciência, não
surpreende que senso crítico
seja apenas um espantalho linguístico. Senso crítico não é uma
mera opinião, é um ato de subversão consciente a obediência
existente, mas como existe a possibilidade do senso crítico se se
quer é do conhecimento dos acadêmicos a sua obediência a algo?
Todo processo de subversão consciente é um processo de obediência,
primeiro porque subverte uma lógica em favor de outra, a qual estão
delimitados princípios claros, isto é, convicções. Nesses
aspectos como poderia haver senso crítico se sequer sabe-se por
quais convicções está se
a trabalhar, produzir e estudar?
O cientificismo
configurado como esse processo de crença na organização científica
atual sem senso crítico é nada mais que uma das formas de religião
e dogma do ambiente acadêmico, e que favorece a compreensão da
hipocrisia que assola a produção do conhecimento humano.
Existe lugar para muita coisa na Universidade, mas tenho
enfrentado dificuldades em conseguir estudar. Seguir carreira
acadêmica em uma área como a matemática está desestimulante, não
quero ser mais um caça editais do CNPq, hoje é a única coisa que
sei sobre meu futuro.
Ah! Grande comunista Lakatos, quando percebo ao meu
redor o que mais vejo são cegos.
Abraços!
Guilherme Wagner
Florianópolis, 22 de setembro de 2014.
domingo, 10 de agosto de 2014
Nós não precisamos de professores milagreiros!
Não! De forma alguma! Nós não precisamos de professores milagreiros, aqueles que com pouco material didático, com escolas caindo em pedaços e com um salário baixo e desvalorização da carreira fazem milagres nos processos de ensino-aprendizagem: conseguem ensinar e aprender trabalhando 60 horas semanais, mas recebendo apenas por 40 horas. Ou não deveríamos precisar.
Nós não precisamos de professores excepcionais, nós não precisamos de professores que dão a vida para melhorar algo que está imensamente ruim. Ninguém deveria ter que pagar com o seu projeto de vida a melhora de outras vidas. Mas é isso que a meritocracia defende, é isso que a meritocracia impõe.
A lógica linear de que se o professor é bom, ele forma bons estudantes e assim bons políticos que aumentarão o seu salário é uma mentira. Uma mentira contada aos quatro cantos como se fosse verdade. Isso não tem nada a ver com formação de vontade política. Nossos políticos tiveram os melhores professores, das melhores escolas, com as melhores universidade e isso nunca fez nada mudar. A verdade é que a vontade política faz parte de um direção política da sociedade.
Essa direção política determina que nossos futuros trabalhadores (estudantes) tenham uma educação mínima, técnica e estejam despossuídos do conhecimento rigoroso e mais alto. Essa direção política determina que para que esses trabalhadores possam ser explorados com maestria, devem antes ser explorados aqueles que os formam: os professores.
Isso não é uma questão puramente individual, de bons e maus professores, porque os processos de aprendizagem e ensino superam as relações interpessoais, e se chocam nas relações interssociais. Isto é, adquirimos a maioria de nossos conhecimentos não na relação professor-estudante, mas sim na relação professor-estudante-sociedade.
E dado que nossa sociedade acumula contradições, contradições essas que criam e mantem elites, e propagam a miséria intelectual e social para os setores majoritários de nossa sociedade (os trabalhadores, que vendem seu tempo para um patrão, ou mais de um), o "verdadeiro" mestre é aquele que antes de ensinar as matemáticas e as ciências ensina a lutar. O "verdadeiro" mestre é aquele que mostra a seus estudantes que lutar é preciso, que o importante é estar lado a lado com os explorados.
O "verdadeiro" mestre é aquele que se lança nas greves contra os governos, defende a educação pública de qualidade e luta contra a privatização do ensino público.
O "verdadeiro" mestre não precisa fazer milagres, ele só precisar ser humano.
Nós não precisamos de professores excepcionais, nós não precisamos de professores que dão a vida para melhorar algo que está imensamente ruim. Ninguém deveria ter que pagar com o seu projeto de vida a melhora de outras vidas. Mas é isso que a meritocracia defende, é isso que a meritocracia impõe.
A lógica linear de que se o professor é bom, ele forma bons estudantes e assim bons políticos que aumentarão o seu salário é uma mentira. Uma mentira contada aos quatro cantos como se fosse verdade. Isso não tem nada a ver com formação de vontade política. Nossos políticos tiveram os melhores professores, das melhores escolas, com as melhores universidade e isso nunca fez nada mudar. A verdade é que a vontade política faz parte de um direção política da sociedade.
Essa direção política determina que nossos futuros trabalhadores (estudantes) tenham uma educação mínima, técnica e estejam despossuídos do conhecimento rigoroso e mais alto. Essa direção política determina que para que esses trabalhadores possam ser explorados com maestria, devem antes ser explorados aqueles que os formam: os professores.
Isso não é uma questão puramente individual, de bons e maus professores, porque os processos de aprendizagem e ensino superam as relações interpessoais, e se chocam nas relações interssociais. Isto é, adquirimos a maioria de nossos conhecimentos não na relação professor-estudante, mas sim na relação professor-estudante-sociedade.
E dado que nossa sociedade acumula contradições, contradições essas que criam e mantem elites, e propagam a miséria intelectual e social para os setores majoritários de nossa sociedade (os trabalhadores, que vendem seu tempo para um patrão, ou mais de um), o "verdadeiro" mestre é aquele que antes de ensinar as matemáticas e as ciências ensina a lutar. O "verdadeiro" mestre é aquele que mostra a seus estudantes que lutar é preciso, que o importante é estar lado a lado com os explorados.
O "verdadeiro" mestre é aquele que se lança nas greves contra os governos, defende a educação pública de qualidade e luta contra a privatização do ensino público.
O "verdadeiro" mestre não precisa fazer milagres, ele só precisar ser humano.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
O academicismo e a esquerda
A academia
A algum tempo escrevi sobre o
Estado de maneira didática em que o concebi como um emaranhado de
instituições e não como uma estrutura acima de qualquer
instituição¹. Isto é, a destruição do capital é a destruição
do Estado concomitantemente, pois o mesmo não é apenas uma arma de
domínio de uma classe sobre outra, ele é a caracterização total
de todas as relações sociais entre dominadores e dominados, entre
explorados e exploradores². Então qualquer estratégia que procure
a conquista do poder político³ é nada mais que a troca de elites,
e como bem dizia Marx, uma elite apenas luta para substituir a
existente ou mesmo aniquilá-la. Sob tais aspectos básicos é fácil
fundamentar erros da estratégia leninista. A intenção aqui não é
caracterizar de modos gerais a estratégia de revolução leninista,
mas sim sobre uma parte específica do atual Estado existente para
silenciar os intelectuais dos oprimidos e explorados: a academia.
A academia é o espaço aonde se
produz a intelligentsia4 capitalista. Para entendermos
esse processo é necessário que entendamos um pouco da dialética de
dominação existente na sociedade capitalista atual, aonde o
processo não mais é de um proprietário privado dos modos de
produção, mas falamos de vários proprietários donos de pequenas
ações geridas a partir de uma nova classe interna de capitalistas,
os gestores. Tal classe é a intelligentsia capitalista, pois é ela
que facilita e domina os processos de interação entre as diversas
instituições e, portanto, atualmente são responsáveis pela
manutenção do status quo. São os teóricos e gestores da dominação
das elites.
Assim podemos entender a academia
como um espaço importante para a formação das elites futuras, não
obstante percebemos essas interações na sua própria forma de agir.
A academia é financiada por governos, por empresas, tem regras
próprias e um linguajar próprio, e detém a hegemonia do
conhecimento humano. E como toda instituição capitalista detém
contradições sob as quais também produz setores subversivos e que
procuram romper com a mesma, mas tais setores são minorias e, caso
radicalizem suas posições, são sumariamente expulsos.
Da prática acadêmica ao
academicismo de esquerda
Vale a pergunta, é a academia um
espaço tático importante para a luta de emancipação do explorados
e oprimidos? Como limitar os aspectos dessa tática?
Quando do início das lutas
proletárias nos anos 1840 a nova classe de explorados, o
proletariado, não era considerada uma classe política dentro das
instituições, pois não detinha de forças de “barganha” para
conquistas sociais dentro das instituições existentes. Todo o
processo subsequente, de formações das sociedades de resistência,
a AIT, os partidos comunistas foram lutas do proletariado para a sua
emancipação, e finalizaram-se no empoderamento do proletariado como
uma classe política dentro das instituições capitalistas. Esse
processo de transformação de uma classe sem poder político em uma
classe política veio acompanhada de processos de recuperação5
das então organizações proletárias, isto é, para o empoderamento
da classe dentro da sociedade capitalista eram necessárias a criação
de instituições para tal empoderamento, assim se legalizaram os
partidos sociais-democratas e os sindicatos, e como novas
instituições capitalistas se baseavam no uso das mesmas armas do
Estado (burocracia, autoritarismo, hierarquia, cristalização de
elites) para o engessamento de qualquer processo político que viesse
a destruir o Estado e o Capital. Isto é, estava claro, partidos
sociais-democratas e sindicatos se tornaram forças
contrarrevolucionárias.
A academia aparece com uma
característica semelhante, no entanto se foca nos chamados
intelectuais orgânicos de Gramsci, ou minoria ativa para alguns
anarquistas. Todo processo de lutas é também um processo de
formação de vanguardas, não importa o nome que se dê a essa
vanguarda, a sua relação dialética e sua formação a partir dos
movimentos é da mesma forma, pois sempre existe aquele mais
solicito, mais falador, com mais recursos, com mais tempo, etc. Tal
vanguarda em suma é quem acumula poder dentro da instituição
capitalista, e a sua recuperação, isto é, a sua cristalização é
importantíssima à classe dominante para que um processo de luta não
se torne em um movimento de contestação e mais radicalizado. Isto
é, surge uma segunda função da academia nesse momento. Enquanto
analisada pelo viés do dominador ela forma a intelligentsia
capitalista, no viés da classe política do proletariado ela procura
empoderar e cristalizar uma vanguarda de luta dos explorados e
oprimidos, isto é, ela se torna uma porta de passagem para a
transformação de uma vanguarda em uma nova elite. Aqui a academia
se responsabiliza por um processo de cristalização de
vanguardas.
No entanto quando da
não-existência da possibilidade de inserimento de um vanguarda na
academia para a sua cristalização ou por falhar nessa tentativa,
visto que a mesma detém de limites dentro do Estado, a mesma se
preocupa em uma terceira função, a do silenciamento das vanguardas
dos oprimidos e explorados. É aqui que se concentra o academicismo
de esquerda.
A cristalização das
vanguardas e a formação de uma nova elite
Podemos6 situar a
iniciativa desse processo com os marxistas legais na Rússia antes de
1905, em que em oposição ao bakuninismo radical de rejeição total
ao Estado os mesmos surgem com ideias mais apaziguadoras com relação
a isso. No entanto a sua intensificação acontece mais poderosamente
(no contexto de lutas anticapitalistas) com a subida ao poder do
partido bolchevique, e mais especificamente com as doutrinas da
Internacional Comunista Stalinista. Para o Estado soviético a
academia se tornou parte fundamental no processo de planejamento da
economia planificada e das relações institucionais. Isto é, apesar
das tentativas, os conflitos entre os gestores e os proletários
foram se intensificando, e a academia se tornou arma poderosa nas
mãos dos gestores dentro do capitalismo de Estado soviético, para
que os poderes delegados aos proletários braçais nas fábricas e
no campo fossem ou silenciados ou recuperados a academia era parte
importante de todo o processo.
O processo de formação de um
nova elite, ou melhor dizendo de uma “aristocracia proletária”,
perpassa por três momentos principais individuais e coletivos. O
individual se caracteriza pela elitização da vanguarda a uma classe
dominante e o coletivo a ideologização dessa nova vanguarda
enquanto classe como uma forma de poder proletário. Assim academia
assume dois papeis dialéticos e fundamentais nesse processo,
enquanto transforma socialmente (materialmente e objetivamente) uma
vanguarda em uma elite (gestores), ao mesmo tempo ilude (construção
da ideologia do Estado Proletário) a base sob a perspectiva de que o
que acontece é um maior poder do proletariado nas instituições,
isto é, a justificativa que com isso estava se combatendo a divisão
do trabalho braçal e mental, e ao mesmo tempo formando instituições
proletárias e comunistas.
O primeiro momento individual na
cristalização da vanguarda pela academia se dá pelo empoderamento
do mesmo dentro de um ambiente já elitizado que é a academia, ao
qual o mesmo tem direito a voz e expressão através de
interlocutores (os acadêmicos), a citar as pesquisas científicas. O
segundo momento é quando o mesmo passa por um processo de
internalização do sistema acadêmico passando assim a se utilizar
de uma linguagem nova, aperfeiçoada de acordo com as normas
internas, é o processo no qual a vanguarda é formada, treinada. O
terceiro momento é dado pela inserção da vanguarda dentro desse
ambiente, passando então a fazer parte de uma instituição
capitalista com formas e relações próprias, aqui a vanguarda se
cristaliza.
Quando analisamos coletivamente
esse momentos percebemos que ao primeiro passo o coletivo se ilude
com o fato de estar sendo empoderado dentro de uma instituição
elitizada do capital, isto é, o mesmo se sente politicamente mais
poderoso. O segundo momento o mesmo se ilude com o fato de que
considerando que essa instituição detém da hegemonia do
conhecimento o coletivo possa aprender muito com ela. O terceiro e
último momento, é quando após a formação da vanguarda a mesma é
tida como superior ao coletivo, a personalização do movimento
coletivo no entanto mais consciente e sábia. Isto é, nesse momento
o coletivo concebe a vanguarda formada como aqueles que melhor sabem
os caminhos que o movimento deve tomar. É a cristalização da
vanguarda pelo coletivo, a eternização da vanguarda pelo coletivo.
O passo subsequente a esses três
é a morte e o nascimento. É a cisão dos dois, e a destruição do
movimento. Nesse momento a vanguarda se torna elite, e o movimento se
potencializa apenas historicamente na vanguarda que estava
cristalizada. Isto é, a anterior personalização do movimento pela
academia, recuperou o movimento, retirou-lhe o caráter de
contestação e o inseriu como apenas outro conhecimento acadêmico.
É a morte do movimento como luta do oprimido e explorado, a
transformação da vanguarda em elite.
Assim percebemos que um movimento
sempre influencia e é influenciado pela sociedade, e ao mesmo tempo
a cristalização da vanguarda ocorre pois houve permissividade da
base para que isso acontecesse. Não existem culpados morais, existem
processos dialéticos e históricos que recuperam lutas sociais, a
academia é apenas uma instituição voltada para parte do movimento.
Esse processo se repete nos
movimentos de luta sul-americanos com diferenças sutis na
caracterização dos momentos, mas com um método semelhante chegamos
as mesmas conclusões. Das mesmas formas podemos perceber o que
significa as vanguardas do movimento negro assumindo ministérios e
secretarias, ou sindicalistas assumindo pastas no governo, ou mesmo a
eternização das direções sindicais e partidárias.
O academicismo de esquerda
Como já explicado, a academia
concentra suas forças de recuperação nas vanguardas dos
movimentos, mas isso não a dissocia do coletivo. Isto é, todo
processo de recuperação de vanguardas é um processo de
recuperação de movimentos. Uma coisa não implica a outra, elas são
dialéticas, assim como são as instituições que as recuperam. Isto
é, o processo de recuperação do movimento está dialeticamente
ligado ao processo de cristalização das vanguardas, da mesma forma
que a instituição academia (onde se cristaliza a vanguarda) está
dialeticamente ligada a instituição que recupera o movimento
(sindicatos, ministérios, etc). Todo processo de recuperação é um
processo dialético das relações sociais na sociedade capitalista.
Agora o debate se concentra sobre
quando não existem as possibilidades da vanguarda ser cristalizada
pela academia, a citar quando a mesma não consegue passar em
vestibulares, não tem condições materiais de se manter ou mesmo
não é aceita. Nesse momento parece que a academia falha na
cooptação das vanguardas, mas não. Quando não se pode cristalizar
a vanguarda a consolidando como uma elite acadêmica, utiliza-se da
elite acadêmica resultante da cristalização de vanguardas
anteriores para silenciar as novas. Isto é, a academia se insere nos
movimentos sob a perspectiva de silenciar suas vanguardas. São os
chamados cursos, encontros e seminários. Nessa prática a academia,
na pessoa dos acadêmicos, se utiliza de toda sua erudição e
capacidade subjetiva de sistematização dos pensamentos para
projetar o seu poder material e objetivo na subjetividade das
vanguardas. Isto é, de fato a academia passa a formar as vanguardas
dos movimentos.
É fácil de perceber essas
questões quando analisamos os encontros do MST em que os cursos são
dados por doutores e acadêmicos, ou os encontros nacionais da CUT,
ou do movimento estudantil. A subjetividade dessas vanguardas são
tomadas pela projeção da classe acadêmica (gestorial) sobre elas.
O processo de utilização de
toda sua erudição para projetar o seu poder material e objetivo
sobre as subjetivas das vanguardas, e também das bases, é o que eu
chamo de academicismo de esquerda. Um debate distante das
lutas enquanto viabilidade de debate das bases.
Não é aqui uma afirmação para
o rebaixamento da capacidade de debate do movimento, mas da
construção de debates sem a interferência da academia em seu meio.
Construção de movimentos autônomos, não somente em palavras, do
Estado, mas prática e subjetivamente.
Movimento feminista
contemporâneo tem muito a ensinar
Entendo por movimento feminista
contemporâneo as teorias interseccionais e abolicionismo de gênero.
Esse feminismo colocou em pauta uma questão importante de sua luta,
o fato de existirem homens anti-machistas que silenciavam mulheres
nos movimentos que deveriam ser para sua emancipação. Isto é, por
mais avançada que fosse a consciência do homem ele continuava a
querer ser protagonista de uma luta que não cabia a ele. Isto é, o
agente de uma instituição por mais consciente que seja acabará
sempre silenciando um movimento.
Mas não é apenas isso ao qual
devo dar créditos ao movimento feminista por dar-nos um debate de
tamanha envergadura, mas em especial a militante do feminismo
comunitário Julieta Paredes que no ano de 2013 durante o Fazendo
Gênero na UFSC criticou o feminismo brasileiro por se concentrar
tanto em aspectos acadêmicos. Olhei para o lado e vi de fato uma
maioria acadêmica, olhei os trabalhos apresentados e eram de fato
acadêmicas empoderando movimentos, aperfeiçoando a linguagem de
resistência desses movimentos de contestação do machismo,
patriarcado, para uma linguagem puramente acadêmica. Não cabe a mim
debater se Paredes estava correta em sua crítica, no entanto ela me
abriu os olhos para um posicionamento crítico com relação a
academia, um posicionamento que as feministas acertadamente tinham
com homens em seus movimentos.
A academia enquanto tática de
luta
Devemos entender que o processo
histórico de formação de certas instituições carregam em si
sementes importantes para a luta do proletariado. Se de um lado a
academia apresenta um caráter contrarrevolucionário a mesma tem
conquistas importantes para os processos de lutas, pois tem
conseguido aglutinar conhecimentos diversos de maneira mais acessível
favorecendo a sua socialização. No entanto isso não deve ser
confundido com aspectos da militância de luta. Supor que a academia
é um espaço com o qual lutas contra o hegemônico (como supõe
certos setores) parece-me um erro tático, dada a poderosa arma de
recuperação das vanguardas que a mesma contém. Assim, a academia
se torna um instrumento tático dedicado exclusivamente a propaganda
política. Não há estrategicamente interesses dentro da academia,
apesar da mesma estar ligada muitas vezes (Brasil) aos setores de
trabalhadores em educação, mas é preciso que nesse contexto haja
uma diferenciação7.
Essa diferenciação deve ser
passo fundamental existente já no movimento estudantil, compreender
criticamente a academia como uma instituição da contrarrevolução,
do silenciamento dos pensadores orgânicos dos movimentos dos
explorados e oprimidos, possibilita que o militante estudantil do
presente não se torne no acadêmico de sinceridade revolucionária
mas prática contrarrevolucionária do futuro. Isto é, a academia é
contrarrevolucionária em essência.
Os limites táticos da academia
se concentram no seu uso de socialização do conhecimento histórico
de lutas e no uso para financiamento de atividades de propaganda
política (edição de livros, minicursos, uso de espaços
estruturais para encontros de lutas).
NOTAS
- Radicalizar para destruir as
instituições
http://escritosradicaiseutopia.blogspot.com.br/2013/08/radicalizar-para-destruir-as.html > - Idem
- Estratégia Revolucionária do PCB, vide https://www.youtube.com/watch?v=g6L0vGmVerY
- Intelligentsia capitalista vista em Jan Waclaw Makhaiski
- Recuperação é o processo pela qual as instituições capitalista retiram o caráter revolucionário e radical de movimentos e coletivos cooptando-os para a sistemática institucional do Estado e do Capital.
- É uma compreensão particular minha.
- No Brasil tem-se um caso especial de que o professor universitário é também um elemento da academia, e isso merece atenções especiais para diferenciações necessárias. O artigo pretende centrar-se sob uma crítica de perspectiva do movimento estudantil autônomo.
terça-feira, 13 de maio de 2014
Entre revertérios e amores, o dilema
Hoje decidi que o que falarei não será sistematizado, não deverá
ser legível ou então compreensível, será apenas o que estiver “à
transbordar”. Hoje negarei a mim a autodisciplina que tanto me
imponho e que se tornou parte constitutiva do meu ser. Ser, serei,
não sei, se pá? Raul dizia que preferia ser uma metamorfose, eu só
posso ser uma revertério ambulante. Hoje da 'pura', amanhã da
'aplicada', sábado um pouco da 'educação'. Semana que vem nem
matemática mais quererei, será 'comunismos stuffs', será bebidas,
será física. Mas será ciência, sempre será.
Na escola me diziam agora aula disso, agora aula daquilo. Na
universidade: “Guilherme tens que escolher um dos cursos”, na
vida profissional “precisamos que sejas formado no testículo esquerdo, o direito não serve”;
“cadê seus certificados?”. Pessoas, porque precisamos dividir?
Não gosto da divisão da ciência em ciências, corta a minha
criatividade, não deixa que eu interligue questões, impede que eu
a ame integralmente. Seres velhos, será que é tão difícil
perceber que eu só quero amar a ciência integralmente?
Não boicote a criatividade alheia deveria ser o primeiro mandamento.
Mas esses seres velhos, esses seres velhos que existem em todos os
lugares, esses seres velhos que querem manter a “nova” longe
deles. Quem são esses velhos? Odeio esses velhos! Odeio ao ponto de
temer ser um deles no futuro, de me fechar as novas que me trouxerem
coisas novas.
Só queria acordar amanhã e dizer: “Será isso Guilherme!” e
poder viver de boa a vida toda, mas esse amor pela ciência me
maltrata... Me parece que os velhos são os que deixaram de amar.
quinta-feira, 3 de abril de 2014
Sou vagabundo, drogado e terrorista, mesmo que prove o contrário
Sou vagabundo
Não importa se trabalho formalmente desde os 15 anos, não importa
se durante um ano estive envolvido em atividades que alcançavam
quase as 60 horas semanais na Universidade, não importa se a
argumentação para as mudanças que proponho são pautadas na
racionalidade, hombridade e realidade, não importa se na sociedade
brasileira apenas 6% detém de propriedades privadas para a produção,
não importa se eu queira saúde 100% pública, educação de
qualidade e gratuita, não importa se eu lute por essas coisas sem
esquecer das minhas responsabilidades. Isso nada importa, o simples
fato de eu lutar por mudanças sociais, lutar contra a exploração e
as opressões e não temer peitar quem provoca essas agressões tendo
a razão, o que importa é que eu estive lutando e querendo mudar, e
se eu fiz isso, sou vagabundo. Essa é a definição de
vagabundo para quem a vocifera aos estudantes do movimento de
ocupação da reitoria.
Sou drogado
Não importa se o meu uso da maconha é absolutamente eventual e
aconselhado por especialistas para momentos de alta pressão, não
importa se a cannabis é importante e chega a salvar vidas no tratamento de
pessoas com esclerose múltipla, casos raros e fortes de epilepsia,
glaucoma, pacientes de quimioterapia, fibromialgia, artrite,
Alzheimer, AIDS, doença de Chron, fobia social, ansiedade, drogados
(pasmem, maconha é usado no tratamento de viciados já que ela
praticamente não vicia), não importa se o grande tráfico não é
sustentado pelo usuário, mas sim pelos grandes comerciantes de
armas, não importa se a ONU recomenda a descriminalização da
maconha. O que importa é que é lei, mas não importa se essa lei se
mostra na maioria dos casos um absurdo e eu queira debatê-la, não
importa se eu queira justificar e argumentar cientificamente, o que
importa é que é mais fácil encher o peito e me chamar de drogado e
de vagabundo.
Sou terrorista
Não importa se a PM-SP homenageia na sua farda o massacre aos
operários que conquistaram a jornada de oito horas diárias em 1917,
não importa se a PM-SP se orgulha de serem filhotes de quem
massacrou Canudos, não importa se a PM só do estado de São Paulo
mata mais que todas as policias do EUA inteiro, não importa que
tenha sido provado por A+B que a PM é uma instituição corrupta,
que ela participa do tráfico, que ela cria milícias, que ela é
seletiva, racista e homofóbica. Não importa que provemos as
truculências da ditadura, os casos intermináveis de corrupção, a
destruição da educação pública. Não importa se repudiamos o
fato de que a militarização impede o policial militar de
reivindicar direitos como pessoa civil. Não importa se apresentamos
fatos que nos dêem a razão em circunstâncias diversas e extremas,
não importa se o copo está meio cheio ou meio vazio, para me
criminalizar vão ver que a água não foi bem filtrada e encontrar
supostas impurezas, e se necessário for as criando. Não importa que a ditadura tenha acabado no papel, mas
que os tanques, o exército e a PM estão entrando em casas sem
mandado e a revelia na Maré-RJ. Isso nada importa, foda-se, sou
vagabundo e drogado, porque é mais fácil dizer e repetir isso e se for o caso dizer para eu pedir ajuda ao Batman. "Guilherme de
presente tome um enquadramento na Lei da Segurança Nacional pra
deixar de ser terrorista", porque é assim, se você luta por
melhorias e propõem os debates você é automaticamente terrorista.
Sou vagabundo, sou drogado e sou terrorista, e mesmo que prove o
contrário, as pessoas não se darão o trabalho de perceber, digo as
pessoas que são privilegiadas, porque as desprivilegiadas um dia
irão puxar as outras pelo pé e dar uma bela coça, ah darão. Se
por todas essas coisas sou considerado vagabundo, drogado e
terrorista, isso serei para todo o sempre se assim necessário for.
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