As últimas semanas de pesquisa tem sido altamente 'gostosas'. Preocupado com a emergência da educação matemática como complexo do ser Social tenho estudado a Matemática propriamente dita com uma profundidade anteriormente nunca feita. E é isso que tem sido particularmente gostoso. Perceber que os jargões de que a "matemática basta por si mesma" e que goza de "grande autonomia" frente a materialidade, e ao mesmo tempo, das idiotices dos materialistas mecanicistas que procuram mostrar como a matemática é real a partir dos "usos e aplicações", e que em si ela seja neutra o problema é os que usam dela. Ter que retomar os originais de Cauchy e Weierstrass para discutir as ideias de rigor, verdade, definição, formalização e formalismo acabam esclarecendo em mim coisas que nunca foram bem definidas: "porque o limite e não outra coisa?" "porque os épsilons?".
Por vezes tão preocupado em repetir incessantemente o encontro de épsilons e deltas para demonstrar propriedades, teoremas e lemas de Análise o mais fundamental nunca era respondido: 'mas porque isso?'. Tudo sempre se resolvia com o tratado de que a matemática se basta por si mesmo, e os fundamentos da matemática devem ser aqueles que permitem o eterno repeteco tautológico dos princípios aristótélicos (ironicamente estes fundados na ética grega de base material). Assim, filosofia da matemática seria o "ré": definir da maneira mais clara possível de forma que se crie toda uma estrutura sem contradições e erros em suas lógicas internas. Matemática seria nada mais nada menos que pura tautologia e sua relação com a realidade uma questão normativa.
E é aqui que retorno a Cauchy e Weierstrass, e muitos outros de seu tempo, indivíduos capazes de sintetizar em suas ideias movimentos de toda uma totalidade social, nesse caso, para o desenvolvimento do complexo da matemática e da própria educação matemática. Não podemos esquecer que os trabalhos de Cauchy eram para "ensinar" de maneira menos 'obscura'.
Em suma, não há como estudar a gênese da matemática sem a gênese do complexo da educação matemática. Por mais que tenham objetos diferentes, dadas suas funções sociais contraditórias: os dois complexos exercem função de reprodução do ser social, mas de formas diferentes, o primeiro na produção do modelo matemático como ser da matemática, e o segundo na materialização desse modelo como parte cultural do ser Social.
Parece que realmente tenho aprendido e apreendido matemática de verdade. E pelos céus ela não é pura tautologia.
Me reconcilio gradativamente com este campo do saber, a matemática, e pareço provar sempre mais que o problema não é saber em si, no seu ser-propriamente-assim, mas a comunidade profissional que se põe como detentora desse saber. Faço as pazes com as noites viradas, com os ataques de pânico e as crises de ansiedade, faço as pazes com as taquicardias e os péssimos gostos das minhas vestimentas. O saber matemático não tem em si culpa do que fazem para ensiná-lo, mas isto não quer dizer que no seu em-si ela seja neutra.
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