Matemática: disciplina do contexto escolar mais temida pelos
estudantes. Mas podemos considerá-la como uma forma de conhecimento
técnico inerte as relações sociais, inócua perante a
capacidade/necessidade humana de emancipação? Porque a mesma é
endeusada por tantos setores? Quais as implicações dessa forma de
trabalhar intelectualmente e praticamente com a matemática na
sociedade? Por que uma educação matemática crítica?
Não podemos negar o caráter ideológico¹ que a tecnologia, e por
consequente a matemática, exprime dentro das relações sociais
(econômicas, políticas, culturais). Isto é, a crença na
neutralidade que a tecnologia desempenha frente as relações que se
organizam socialmente é ideológica por mascarar às classes
exploradas quem domina a tecnologia, quem a conhece, quem a produz e
porque a produz. Isso transita diretamente para as questões
relacionadas ao conhecimento matemático, visto que a sociedade é
absolutamente matematizada e o desconhecimento ou estranhamento das
classes exploradas e oprimidas frente a ela possibilitam um maior
controle dos capitalistas sobre as mesmas. Em resumo, na sociedade
atual de caráter tecnológico e matematizada o conhecimento da
matemática enquanto ciência e técnica exprimem relações de poder
entre as classes que formam a pirâmide social. Assim de forma
algumas podemos considerar uma neutralidade da matemática nas
relações sociais, pois ela expressa poder, dominação e
exploração.
Este pensamento hegemônico surge de uma época profundamente
platônica, e que irá se refletir mais fortemente com o surgimento
do idealismo burguês. Os primeiros princípios escritos sobre a
lógica matemática, sobre a própria matemática em quesitos de
abstração foram feitas por pessoas como Galileu e Descartes que
acreditavam fortemente na existência de um Deus, e assim promulgavam
a ideia de que a mesma seria em algum momento algo transcendental ao
mundo e um caminho de aproximação com a divindade suprema.
Considerando que a matemática não apresentou (ao menos ao meu
conhecimento atual) um pensamento contra-hegemônicos dessas
tendências idealistas e desligadas da materialidade, é mister
compreender que a matemática como relação fundamental da
hierarquia do poder do Estado e do capital toma uma importância
fundamental. Isto é, todas as colocações anteriores de entender a
matemática como passo fundamental na ideologização das relações
sociais decorrem de um movimento histórico e dialético desde a
fundamentação dos seus primeiros pilares com os platonistas durante
a Idade Média. Não é minha intenção aqui apresentar
profundamente como esses processos se deram, pois o artigo tem como
objetivo delinear o porque da necessidade de uma educação
matemática crítica.
Nesses aspectos colocados percebemos uma educação matemática
sustentada sobre o poder de dominação exemplificada em listas e
listas de exercícios apresentadas como ordens ao estilo “calcule”,
“efetue”, “resolva”, conjuntamente a um entendimento da
própria matemática como fechada em si, desligada
da materialidade, e apenas passível de aplicação à mesma, isto é
promulgando uma ideologia da certeza de que a matemática é
infalível, pura e verdadeira sob todos os aspectos, aonde a própria
forma de “falar” matemática se desencaixa dos preceitos da
realidade e se encaixam em uma possibilidade de um mundo platônico,
de um mundo das ideias dissociado de onde vivemos. Entendemos que
todos esses movimentos se manifestam na reprodução do status quo, e
fortificam a cada momento as relações de dominação e exploração
existentes na sociedade visto que a mesma sociedade fortemente
matematizada educa para a alienação completa das pessoas sobre suas
relações humanas.
Constatada a existência dessa relação entre a matemática/educação
matemática com as relações sociais de dominação e exploração
que impedem a formação e a emancipação da humanidade, a elaboração
de uma educação matemática crítica sensível a esses problemas
se torna não apenas um comprometimento claro na imediata
democratização e proliferação do conhecimento matemático a todas
as pessoas, mas também como um projeto que visa conceber pessoas com novos objetivos pautados na solidariedade e na
emancipação da humanidade.²
Notas
[1] Ideologia aqui apresentada no sentido marxista da palavra, isto
é, de cominação através das ideias mascarando a realidade para as
grandes massas sob a apresentação de “meias-verdades”.
[2] Pretendo abordar como a educação matemática crítica pode ser
trabalhada em outros artigos ou textos didáticos para qualquer um,
nesse apenas quis elucidar a importância da mesma.
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