quarta-feira, 2 de abril de 2014

A necessidade de uma educação matemática crítica


Matemática: disciplina do contexto escolar mais temida pelos estudantes. Mas podemos considerá-la como uma forma de conhecimento técnico inerte as relações sociais, inócua perante a capacidade/necessidade humana de emancipação? Porque a mesma é endeusada por tantos setores? Quais as implicações dessa forma de trabalhar intelectualmente e praticamente com a matemática na sociedade? Por que uma educação matemática crítica?

Não podemos negar o caráter ideológico¹ que a tecnologia, e por consequente a matemática, exprime dentro das relações sociais (econômicas, políticas, culturais). Isto é, a crença na neutralidade que a tecnologia desempenha frente as relações que se organizam socialmente é ideológica por mascarar às classes exploradas quem domina a tecnologia, quem a conhece, quem a produz e porque a produz. Isso transita diretamente para as questões relacionadas ao conhecimento matemático, visto que a sociedade é absolutamente matematizada e o desconhecimento ou estranhamento das classes exploradas e oprimidas frente a ela possibilitam um maior controle dos capitalistas sobre as mesmas. Em resumo, na sociedade atual de caráter tecnológico e matematizada o conhecimento da matemática enquanto ciência e técnica exprimem relações de poder entre as classes que formam a pirâmide social. Assim de forma algumas podemos considerar uma neutralidade da matemática nas relações sociais, pois ela expressa poder, dominação e exploração.

Este pensamento hegemônico surge de uma época profundamente platônica, e que irá se refletir mais fortemente com o surgimento do idealismo burguês. Os primeiros princípios escritos sobre a lógica matemática, sobre a própria matemática em quesitos de abstração foram feitas por pessoas como Galileu e Descartes que acreditavam fortemente na existência de um Deus, e assim promulgavam a ideia de que a mesma seria em algum momento algo transcendental ao mundo e um caminho de aproximação com a divindade suprema. Considerando que a matemática não apresentou (ao menos ao meu conhecimento atual) um pensamento contra-hegemônicos dessas tendências idealistas e desligadas da materialidade, é mister compreender que a matemática como relação fundamental da hierarquia do poder do Estado e do capital toma uma importância fundamental. Isto é, todas as colocações anteriores de entender a matemática como passo fundamental na ideologização das relações sociais decorrem de um movimento histórico e dialético desde a fundamentação dos seus primeiros pilares com os platonistas durante a Idade Média. Não é minha intenção aqui apresentar profundamente como esses processos se deram, pois o artigo tem como objetivo delinear o porque da necessidade de uma educação matemática crítica.

Nesses aspectos colocados percebemos uma educação matemática sustentada sobre o poder de dominação exemplificada em listas e listas de exercícios apresentadas como ordens ao estilo “calcule”, “efetue”, “resolva”, conjuntamente a um entendimento da própria matemática como fechada em si, desligada da materialidade, e apenas passível de aplicação à mesma, isto é promulgando uma ideologia da certeza de que a matemática é infalível, pura e verdadeira sob todos os aspectos, aonde a própria forma de “falar” matemática se desencaixa dos preceitos da realidade e se encaixam em uma possibilidade de um mundo platônico, de um mundo das ideias dissociado de onde vivemos. Entendemos que todos esses movimentos se manifestam na reprodução do status quo, e fortificam a cada momento as relações de dominação e exploração existentes na sociedade visto que a mesma sociedade fortemente matematizada educa para a alienação completa das pessoas sobre suas relações humanas.

Constatada a existência dessa relação entre a matemática/educação matemática com as relações sociais de dominação e exploração que impedem a formação e a emancipação da humanidade, a elaboração de uma educação matemática crítica sensível a esses problemas se torna não apenas um comprometimento claro na imediata democratização e proliferação do conhecimento matemático a todas as pessoas, mas também como um projeto que visa conceber pessoas com novos objetivos pautados na solidariedade e na emancipação da humanidade.²

Notas
[1] Ideologia aqui apresentada no sentido marxista da palavra, isto é, de cominação através das ideias mascarando a realidade para as grandes massas sob a apresentação de “meias-verdades”.

[2] Pretendo abordar como a educação matemática crítica pode ser trabalhada em outros artigos ou textos didáticos para qualquer um, nesse apenas quis elucidar a importância da mesma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário