sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Quando a forma esconde o conteúdo: filosofia não é charlatanismo!

O modo de exposição de uma pesquisa, a dimensão estética da escrita, é sempre uma relação posta entre forma e conteúdo. Ser relação posta configura ser sempre expressão de intencionalidade político-social do pesquisador, do autor, do artista. O conteúdo, por outro lado, é relação causal da materialidade ôntica e da forma fenomênica, expressão homogeneizada do momento real heterogêneo pela apreensão ideal da ciência ou da arte. Em suma, na relação posta entre conteúdo e forma, é papel desta última possibilitar o desvendamento consciente ao leitor.

Entretanto, principalmente em pesquisas na filosofia da Educação Matemática, a forma tem se configurado como espaço de obscurecimento do conteúdo, se não mais, tentativa de ocultar um conteúdo inexistente. Entre "narrativas" e "pensar pensamentos" a forma toma a forma de charlatanismo.

Em muitas narrativas as formas forçadas são explorada de maneira a dar senso estético a uma obra de conteúdo aligeirado. Entre poemas, poesias e cartas busca-se expressar na forma a impossibilidade de apreender o conteúdo. Ergo-me em defesa das narrativas: pesquisas narrativas não são bagunça para dar voz a qualquer modismo estético da banalização; poemas, narrativas, poesias e cartas/epístolas são resultado de um processo doloroso de assimilação e refinamento da objetividade a partir da subjetividade do autor. Ergo-me em defesa da narrativa: narrar não é descrever, poema não é só rima, carta não é só contar: a estética é mais que a forma. Paremos de banalizar nossas pesquisas narrativas!

Que vem a ser a afirmação "pensar o pensamento" se não o uso do pleonasmo para expressar todas as multiplicidades de uma sociedade fragmentada pelo Capital que se ergue contra a dualidade totalitária de Marx? Deleuze e Guatari, Derrida e Lyotard, ora pois ixtepô diria o manezinho da ilha: mais difícil de decifrar que o dialeto açoriano ouvido pela primeira vez. O abuso da forma é para esconder a inexistência de um conteúdo transformador. É para procurar no âmbito do discurso expressar uma radicalidade que não se exerce na prática: Argélia que o diga! Franceses que se negaram a lutar contra o colonialismo, mas que se colocam como baluarte contra toda forma de autoritarismo. Anarquistas liberais e individualistas, detratores da história de toda a humanidade. Que me perdoem, mas enquanto viver, o charlatanismo que se põe como filosofia sempre será denunciado!

sexta-feira, 27 de julho de 2018

A Lei do Retorno: na direção das pazes com a Matemática

As últimas semanas de pesquisa tem sido altamente 'gostosas'. Preocupado com a emergência da educação matemática como complexo do ser Social tenho estudado a Matemática propriamente dita com uma profundidade anteriormente nunca feita. E é isso que tem sido particularmente gostoso. Perceber que os jargões de que a "matemática basta por si mesma" e que goza de "grande autonomia" frente a materialidade, e ao mesmo tempo, das idiotices dos materialistas mecanicistas que procuram mostrar como a matemática é real a partir dos "usos e aplicações", e que em si ela seja neutra o problema é os que usam dela. Ter que retomar os originais de Cauchy e Weierstrass para discutir as ideias de rigor, verdade, definição, formalização e formalismo acabam esclarecendo em mim coisas que nunca foram bem definidas: "porque o limite e não outra coisa?" "porque os épsilons?".

Por vezes tão preocupado em repetir incessantemente o encontro de épsilons e deltas para demonstrar propriedades, teoremas e lemas de Análise o mais fundamental nunca era respondido: 'mas porque isso?'. Tudo sempre se resolvia com o tratado de que a matemática se basta por si mesmo, e os fundamentos da matemática devem ser aqueles que permitem o eterno repeteco tautológico dos princípios aristótélicos (ironicamente estes fundados na ética grega de base material). Assim, filosofia da matemática seria o "ré": definir da maneira mais clara possível de forma que se crie toda uma estrutura sem contradições e erros em suas lógicas internas. Matemática seria nada mais nada menos que pura tautologia e sua relação com a realidade uma questão normativa.

E é aqui que retorno a Cauchy e Weierstrass, e muitos outros de seu tempo, indivíduos capazes de sintetizar em suas ideias movimentos de toda uma totalidade social, nesse caso, para o desenvolvimento do complexo da matemática e da própria educação matemática. Não podemos esquecer que os trabalhos de Cauchy eram para "ensinar" de maneira menos 'obscura'.

Em suma, não há como estudar a gênese da matemática sem a gênese do complexo da educação matemática. Por mais que tenham objetos diferentes, dadas suas funções sociais contraditórias: os dois complexos exercem função de reprodução do ser social, mas de formas diferentes, o primeiro na produção do modelo matemático como ser da matemática, e o segundo na materialização desse modelo como parte cultural do ser Social.

Parece que realmente tenho aprendido e apreendido matemática de verdade. E pelos céus ela não é pura tautologia.

Me reconcilio gradativamente com este campo do saber, a matemática, e pareço provar sempre mais que o problema não é saber em si, no seu ser-propriamente-assim, mas a comunidade profissional que se põe como detentora desse saber. Faço as pazes com as noites viradas, com os ataques de pânico e as crises de ansiedade, faço as pazes com as taquicardias e os péssimos gostos das minhas vestimentas. O saber matemático não tem em si culpa do que fazem para ensiná-lo, mas isto não quer dizer que no seu em-si ela seja neutra.