domingo, 10 de agosto de 2014

Nós não precisamos de professores milagreiros!

Não! De forma alguma! Nós não precisamos de professores milagreiros, aqueles que com pouco material didático, com escolas caindo em pedaços e com um salário baixo e desvalorização da carreira fazem milagres nos processos de ensino-aprendizagem: conseguem ensinar e aprender trabalhando 60 horas semanais, mas recebendo apenas por 40 horas. Ou não deveríamos precisar.

Nós não precisamos de professores excepcionais, nós não precisamos de professores que dão a vida para melhorar algo que está imensamente ruim. Ninguém deveria ter que pagar com o seu projeto de vida a melhora de outras vidas. Mas é isso que a meritocracia defende, é isso que a meritocracia impõe.

A lógica linear de que se o professor é bom, ele forma bons estudantes e assim bons políticos que aumentarão o seu salário é uma mentira. Uma mentira contada aos quatro cantos como se fosse verdade. Isso não tem nada a ver com formação de vontade política. Nossos políticos tiveram os melhores professores, das melhores escolas, com as melhores universidade e isso nunca fez nada mudar. A verdade é que a vontade política faz parte de um direção política da sociedade.

Essa direção política determina que nossos futuros trabalhadores (estudantes) tenham uma educação mínima, técnica e estejam despossuídos do conhecimento rigoroso e mais alto. Essa direção política determina que para que esses trabalhadores possam ser explorados com maestria, devem antes ser explorados aqueles que os formam: os professores.

Isso não é uma questão puramente individual, de bons e maus professores, porque os processos de aprendizagem e ensino superam as relações interpessoais, e se chocam nas relações interssociais. Isto é, adquirimos a maioria de nossos conhecimentos não na relação professor-estudante, mas sim na relação professor-estudante-sociedade.

E dado que nossa sociedade acumula contradições, contradições essas que criam e mantem elites, e propagam a miséria intelectual e social para os setores majoritários de nossa sociedade (os trabalhadores, que vendem seu tempo para um patrão, ou mais de um), o "verdadeiro" mestre é aquele que antes de ensinar as matemáticas e as ciências ensina a lutar. O "verdadeiro" mestre é aquele que mostra a seus estudantes que lutar é preciso, que o importante é estar lado a lado com os explorados.

O "verdadeiro" mestre é aquele que se lança nas greves contra os governos, defende a educação pública de qualidade e luta contra a privatização do ensino público.

O "verdadeiro" mestre não precisa fazer milagres, ele só precisar ser humano.